sábado, 12 de março de 2011

Zhuang Zi



El gran Saber todo lo abarca
El pequeño todo lo divide.
Las grandes palavras son fuego.
Las pequeñas, balbuceos inútiles.
Durante el sueño,
las almas de los hombres
se funden, se entremezclan.
En la vigilia,
los cuerpos se despiertan y se animan.
En el contacto con las cosas,
el corazón del hombre se enreda y lucha:
prudencia, astucia, calma.
Los pequeños miedos le inquietan.
Los grandes le paralizan.
Rápido como una flecha
se lanza a distinguir la verdad de la mentira.
Obstinado como el que ciegamente jura
y se aferra a la victoria.
Igual que en otoño e invierno,
se apagan los días del hombre.
En el mar de sus actos, ya hundido,
nada puede hacerle emerger.

Su corazón lacrado se marchita,
Así llega a la vejez,
hacia la muerte.
Su luz ya no renace.
Alegría, cólera,
tristeza, placer,
lamento, inquietud,
inconstancia, perseverancia,
descuido, ligereza
insolencia, afectación.
Música que brota del silencio.
Hongos que nacen de la humedad.
Los días se alternan con las noches;
nadie sabe el cómo ni el porqué.
¡Basta, basta!
¿Acaso podemos conocer
el origen de todo lo que cabe
entre un día y una noche?

Sin lo otro, no hay yo.
Sin el yo, nada se manifiesta.
Sí, cerca estamos del origen,
pero desconocemos Aquello
que todo lo hace y lo comienza.
Quizás haya un Dueño verdadero:
ninguna traza hay de su existencia.
Real, pero invisible.
Creemos en sus actos
aunque no vemos su figura.

De los cien huesos de que un cuerpo se compone,
de los nueve orificios, de las seis vísceras,
¿cuál es el más amado?             
¿Se les ama a todos por igual?
¿Hay alguna preferencia?
¿Son todos ellos amos?
¿O se altenan en su poder
como servidor y soberano?
¿Hay entre ellos un Dueño verdadero?
Aunque lo hubiera,
nuestra ignorancia de él,
nuestro conocimiento de él,
no afectarían en nada a su auténtica Verdad.

Cuando una forma nos ha sido dada,
persiste hasta que la vida se agota.
Nos cortamos con el filo de las cosas.
Nos evitamos mutuamente.
Veloces como caballos galopando.
Incontenibles. ¿No es una lástima?
Esforzarse sin ver el fruto del trabajo.
Agotarse y no saber a dónde regresar.
¿No es triste?
Ser imortales ¿para qué?
El cuerpo se corrompe,
así también el espíritu.
¿Podemos negar ese inmenso dolor?
¿La vida del hombre es tan absurda?
¿O es que soy el único que lo piensa,
yo, el más absurdo de entre todos?


(Extraído de Los Capítulos Interiores de Zhuang Zi. Editorial Trotta. Traducción de Pilar González España y Jean Claude Pastor-Ferrer)

sexta-feira, 4 de março de 2011

O encontro de Confúcio e o velho Dan


 

Elimínese la inteligencia, rechácense las argumentaciones,
y las gentes obtendrán beneficios cien veces mayores.
Elimínese la hipocresía, rechácese el fingimiento
y las gentes retornarán a la piedad filial y al amor.
                                                                                                             
Tao Te Ching, XIX[i].


          À medida que adentrava a capital de Zhou, Confúcio podia sentir seu coração se encher de expectativas. Já era respeitado por sua erudição. Seu nome circulava entre os nobres do Reino de Lu. Acreditava que em pouco tempo algum governante esclarecido lhe daria uma oportunidade. “Sei que todos podem se educar nos ritos e na cultura”, repetia para si mesmo. “A única forma de pôr um fim nessa decadência dos costumes é a retomada dos ritos, tal como nos tempos áureos do governo de Zhou.” Sentia que estava conectado com a vontade do Céu.
          Em Zhou, desejava conhecer um ancião que diziam ser um homem de grande sabedoria conhecido como o velho Dan. Naquela manhã, foi ao seu encontro perguntar acerca dos ritos. Como sempre, seus discípulos o seguiam aonde quer que fosse. Ao chegarem ao destino Confúcio pediu que fosse anunciado a Lao Dan[ii]. Fez um sinal para que seus discípulos aguardassem a uma distância razoável da morada. Não queria que a movimentação o incomodasse. Chamado a entrar, transpôs o portal e caminhou com discrição até uma pequena sala. Logo pôde ver um velho sentado no fundo da sala, talhando uma pequena tabuleta de bambu. Prontamente, adotou uma expressão de gravidade. Inclinando-se, juntou as mãos cerradas à frente da cabeça formando um arco. Seu manto, que parecia vivo, acompanhava o movimento de seu corpo. O velho ergueu a cabeça e viu Confúcio, as mãos ocultas sob o manto, em reverência. Permaneceu na postura por alguns segundos. Com resolução, Confúcio ergueu o olhar em direção ao velho, recolheu os braços para trás da cintura, as mangas agitavam-se como asas. Em uma fala eloquente, mas sem perder certo ar circunspecto, interrogou ao velho acerca dos ritos.
          O velho, que até então só observava, lhe disse:
- Todo vosso ensino não passa de palavras ditas por homens que há muito desapareceram junto a seus ossos. Quando um homem virtuoso se acomoda a seu tempo marcha em carruagem, e quando não, se move sem rumo levado pelo vento. Ouvi dizer que um bom comerciante guarda tão bem sua mercadoria que aparenta não ter nenhuma, e que o homem virtuoso, de grandes qualidades, parece um estúpido. Suprime vossa arrogância e vossa ambição, vossa obsequiosidade e vossa lascívia: tudo isso não favorece em nada vossa pessoa. Isso é tudo o que tenho a lhe dizer.
          Confúcio se retirou. Do lado de fora, seus discípulos afetaram expectativas ao ver seu Mestre retornar. Yan Hui logo lhe interrogou sobre a conversa.
           Confúcio disse:
- Sei que um pássaro voa, que um peixe nada, que um animal anda; para o que anda, posso fazer uma armadilha; para o que nada, posso fazer um anzol; para o que voa, posso fazer arcos e flechas. Quanto ao dragão, no entanto, escapa a minha inteligência o modo como se eleva ao céu montado no vento e nas nuvens. Depois de vê-lo hoje, penso se o Mestre Lao não será como um dragão.
          O velho Dan cultivou o Tao e sua virtude. Baseou sua doutrina em viver ignorado, sem renome algum.



(As falas de Lao Dan e Confúcio são da versão de Sima Qian, o primeiro grande historiador da China antiga, e podem ser encontradas no Lao zi liezhuan do Shi Ji  (Registros históricos. Utilizei a tradução de Iñaki Preciado Idoeta. O modo como Confúcio agia em atos oficiais, religiosos e sociais – os ritos - é descrito no Capítulo 10 dos Analectos).

[i] Tao Te Ching. Los libros del Tao. Lao Tse. Editora Trotta. Madrid, 2010. Edicíon y traducción del chino de Iñaki Preciado Idoeta. O trecho é uma tradução do Lao zi de Guodian.
[ii] Lao Dan: o velho Dan.



Boyi, o menino que compreendia os animais

          No meio do mato vive um menino que se chama Boyi. Há tempos saiu de casa e caiu no galho de aprender palavra de ave. Levava a vida na flauta e se meteu com todo canto. Quadrupiava metido no mato até que ficou versado em árvore. Gostava de perder tempo conversando com o corvo de três patas. O corvo, que era fiado no bico, mostrou a Boyi a planta Diri. Falou que quem a comesse não envelheceria. Isso explica o menino nunca ter crescido. Dos frutos preferia encaixar bunda de formiga entre os dentes. Larvas gordas tinham um gosto de tronco de côco.
          E assim, despreocupado de palavras vivia de pedra em pedra quando do galho descia. Até que o mundo se encheu de água. Uma grande inundação deixou poucas terras secas e os animais começaram a se meter entre as pessoas. Logo, uns atacavam os outros. As pessoas ficavam sem os pedaços da carne que as feras arrancavam. Era cada bifão. Feridas de garras e bosteadas de ave, as pessoas iam se queixar ao Imperador Yao. Diante do caos, este chamou Yu, o Grande, e confessou suas intenções de atear fogo nas áreas secas para espantar as bestas selvagens. Yu, humildemente afirmou que a medida não era adequada, mas que conhecia alguém que seria capaz de pacificar as relações entre os homens e os outros animais. “Há de ser Boyi” garantiu Yu. “O menino compreende a linguagem das aves e é conhecido por adestrar animais selvagens”. De pronto, saiu no encalço do garoto.
          Depois de uns dias rasgando mato, encontrou-o empoleirado em galho. Ao saber das intenções do Imperador o menino ficou arara. Gralhou a lógica imperativa e gorjeou suas razões de bicho. Yu não entendeu a prosa de passarinho, mas soube que o garoto ajudaria. E o menino fez do seu jeito. Lembrou de cabra gente boa que conhecia e, então, lhe pediu ajuda. Zelosa como era, cabra disse que levaria Boyi para conversar com o Javali. Conhecido por sua honestidade era muito benquisto até mesmo entre os mais selvagens. Assim, a cabra cedeu acento ao menino e saíram atrás.
          Encontrara Javali com a barriga pra cima, todo esparramado. Ao escutar o motivo da visita, prontamente, o Javali garantiu que os desentendimentos acabariam. Logo mandou que abrissem um vinho e chamou outros animais para comer e beber. Os bichos foram chegando às patotas. Em pouco tempo, estavam todos rindo e satisfeitos. Todos concordaram evitar desentendimentos com o animal humano. A Cabra, que apreciava um bom vinho, contava uns caso. Entre um e outro cigarro de palha, o Tigre, poeta que era, tomava a palavra para lavrar. E assim, viraram a noite na farra. E Boyi? Menino que era, dormiu na primeira hora. Desmaiado que nem bicho de pé num canto.
          No dia seguinte, quando manhã cheirou cangote de Boyi, ele já tava de pé dando chute em canela de formiga. Mas teve bicho que dormiu o dia inteiro. O silêncio na mata foi tão grande que os murmúrios logo chegaram ao ouvido do Imperador. Boyi conseguira trazer a paz entre as pessoas e os outros animais. E assim mesmo, do jeito que era, o menino ficou. Não entendia das confusões do mundo. Mas sabia que nada há para ser entendido.[i]



[i] Os anos se passaram e Boyi nunca mais foi visto naquelas regiões. Caiu no mundo. Dizem que passou uma vida em Mato Grosso e o chamavam Bernardo. Suas meninices inspiraram um poeta a copiar sua fala e escrever um Compêndio para uso dos pássaros.

(O texto é uma versão livre. Os fragmentos a respeito do mito Boyi podem ser encontrados em Mitologia clásica china. Edicions de La Universitat de Barcelona, 2004. Edição e tradução de Gabriel García-Noblejas Sánchez-Cendal. Outras fontes: São Paulo: Andreoli, 2010. Maspero, Henri. El taoísmo y las religiones chinas. Trotta: 2000.)