Os antigos Mestres de fato viam intimamente. Perceberam que
como nada durava mais do que o instante fugidio, em última instância nada
existia. Perceberam também que “nada” é alguma coisa e que o oposto de uma verdade
profunda é outra verdade profunda. Nada
existe. Algo existe. “Todos os cretentes são mentirosos, disse o cretense”. É
melhor ficar de boca calada.
Contudo, esses velhos camaradas descobriram algo importante.
Se nada existe como o conhecemos, se tempo e espaço são categorias
intelectuais, não há nada que possamos captar de verdade, ordenar ou
desordenar. Isso nos deixa livres.
Deixa-nos atuar no teatro cósmico da mente. O mundo todo é
um palco e nós somos os não atores. Será que a vida pode ser tão simples quanto
isso?
Dali em diante desceu-se ladeira abaixo para o próximo
estágio, então o seguinte. Limites! Preferências !! Apegos !!! E, antes que nos
déssemos conta, nossos dias se encheram
de bebês chorando, pagamento de hipoteca, mensagens nojentas na caixa de
correio.
Prejuízo e totalidade estão nos olhos de quem vê, é claro.
Se você é uma criança, não há nada mais divertido que descer ladeira abaixo.
Uma tragédia é uma comédia mal compreendida. Uma vez entendendo o que você é
nada resta além de gratidão e riso.
(Stephen Mitchell, O Segundo livro do Tao)
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