sábado, 26 de maio de 2012








Os antigos Mestres de fato viam intimamente. Perceberam que como nada durava mais do que o instante fugidio, em última instância nada existia. Perceberam também que “nada” é alguma coisa e que o oposto de uma verdade profunda é outra verdade profunda. Nada existe. Algo existe. “Todos os cretentes são mentirosos, disse o cretense”. É melhor ficar de boca calada.

Contudo, esses velhos camaradas descobriram algo importante. Se nada existe como o conhecemos, se tempo e espaço são categorias intelectuais, não há nada que possamos captar de verdade, ordenar ou desordenar. Isso nos deixa livres.

Deixa-nos atuar no teatro cósmico da mente. O mundo todo é um palco e nós somos os não atores. Será que a vida pode ser tão simples quanto isso?

Dali em diante desceu-se ladeira abaixo para o próximo estágio, então o seguinte. Limites! Preferências !! Apegos !!! E, antes que nos déssemos conta, nossos dias se encheram  de bebês chorando, pagamento de hipoteca, mensagens nojentas na caixa de correio.

Prejuízo e totalidade estão nos olhos de quem vê, é claro. Se você é uma criança, não há nada mais divertido que descer ladeira abaixo. Uma tragédia é uma comédia mal compreendida. Uma vez entendendo o que você é nada resta além de gratidão e riso. 


(Stephen Mitchell, O Segundo livro do Tao)

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