sexta-feira, 14 de janeiro de 2011

O fabricante de rodas


 
O Duque Huan lia um livro na extremidade superior do salão. Pien, o fabricante de rodas, fazia uma roda na extremidade inferior. Largando seu martelo e formão, ele foi até lá e disse:
- Vossa Graça, permite-me perguntar o que estais lendo?
- As palavras dos sábios – disse o duque.
- Esses sábios ainda estão vivos?
- Não, há muito que já morreram.
- Então o que ledes são apenas restos deixados para trás.
- Como ousas fazer tal comentário sobre o que estou lendo?! – gritou o duque. – Explica-te ou morres!
- Certamente, Vossa Graça – disse o fabricante de rodas. – Eis como vejo isso. Quando trabalho numa roda, se bater no formão com muita suavidade, ele desliza e não agarra. Mas se eu bater no formão com muita força, ele fica preso na madeira. Quando a batida não é muito suave nem muito forte, eu sei; minhas mãos conseguem sentir. Não há modo que me permita descrever esse ponto de equilíbrio perfeito. Ninguém me ensinou e não posso ensinar ao meu filho. Já faz setenta anos que pratico meu ofício e nunca serei capaz de passá-lo adiante. Quando os velhos sábios morreram, levaram consigo o que sabiam. Foi por isso que eu disse que o que ledes são apenas restos deixados para trás.

(Texto de Zhuang Zi extraído de O segundo livro do Tao. Stephen Mitchel. Rio de Janeiro: Nova Era, 2010.)

Nenhum comentário: